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Divisão Internabetonredcasino - dos Kayapó- Um Documentário

Nas matas frondosas,ãoInternadosKayapóUmDocumentábetonredcasino - nas matas exuberantes, Takaknhotire Kayapó desbrava em busca das castanhas que despencam das copas perenes das castanheiras centenárias nas beiras do rio Xingu, na Terra Indígena Kayapó. As amêndoas embaladas pelas cascas são alimento e moeda para as comunidades da região, no sudoeste do Pará.

Com o peso dos 75 anos sobre os ombros, Soldado, alcunha de Takaknhotire, já testemunhou muitas transformações no território de seu povo. Por isso, sabe bem o que deseja e principalmente o que rejeita para a aldeia Kamoktidjam, fundada por ele em 2016 ao lado da família. "Um dia eu saí pra apanhar açaí e não tinha mais, os garimpeiros derrubaram as árvores", lamenta Soldado.

A Terra Indígena Kayapó foi a que mais sofreu com o garimpo ilegal de ouro nos últimos cinco anos no Brasil. Entre 2018 e 2022, o território perdeu 13,7 mil hectares de floresta devastados pelo desmatamento causado pela mineração clandestina, segundo o levantamento do Mapbiomas.

No entanto, nem todas as aldeias indígenas locais resistem à investida, como a comandada por Soldado. Em algumas, os garimpeiros aliciam as famílias para liberar a entrada em seus territórios. Segundo os próprios moradores, são poucos os que se beneficiam das migalhas do dinheiro.

Esse é o cenário retratado no documentário A floresta Kayapó em pé: Báká Kájmã Ṳm, produzido pela Repórter Brasil, com apoio do The Investigative Journalism for Europe (IJ4EU) e do Journalismfund Europe.

Nos garimpos, os rios se convertem em barrancos de lama

Na porção oeste da Terra Indígena Kayapó, na região cortada pelo rio Xingu, as comunidades protegem o território do avanço do garimpo. Há postos de fiscalização do tráfego de embarcações, com registro de quem entra e sai da área protegida.

Já na região leste, é como se uma linha imaginária dividisse o território, alterando a geografia da floresta. O verde cede lugar ao vermelho do barro, empilhado em morros pelas máquinas do garimpo ilegal.

Nas aldeias Gorotire e Turedjam, nas zonas leste e nordeste da Terra Indígena Kayapó, respectivamente, é possível chegar de carro. O trajeto dura poucas horas, mas ao longo do caminho são evidentes os sinais de como o garimpo afeta a fauna e a flora. Os rios no entorno das aldeias estão praticamente mortos, sem peixes.

"Quando eu tinha 11 anos, o rio era todo limpo, saudável, limpo, com muito peixe. E agora? Agora tá sujo, estragado, por causa do garimpo. Barro, mercúrio, tudo estraga. Aí eu sinto dor, né?", desabafa Myryre Kayapó, morador da aldeia Gorotire.

O mercúrio mencionado por Myryre afeta a saúde do povo Kayapó. Estudos da Fundação Oswaldo Cruz em povos indígenas da região do Tapajós, no sudeste do Pará, apontam que o metal, empregado pelos garimpeiros para separar o ouro do barro, provoca danos neurológicos nas comunidades. A contaminação acontece principalmente pelo consumo de pescado de rios poluídos pelo mercúrio.

"Não somos todos nós que estamos envolvidos com o garimpo, é só uma minoria. A maioria da comunidade quer expulsar todos os garimpeiros. Para o rio ficar limpo de novo, pra gente poder nadar e pescar", diz Tussan Kayapó, um dos cinco caciques da aldeia Gorotire.

A rota internacional do ouro ilegal

O ouro clandestino extraído da Terra Indígena Kayapó é lavado e exportado para empresas estrangeiras, movimentando bilhões de reais anualmente. Em 2021, uma investigação da PF (Polícia Federal) em parceria com o MPF (Ministério Público Federal) desmontou um esquema que comprava ouro ilegal na Terra Indígena Kayapó e o revendia a uma das maiores fabricantes de joias da Itália.

Para Rafael Martins Silva, procurador do MPF no Pará, o foco das apurações dos órgãos de segurança passou a ser mirar todos os participantes da cadeia ilegal do ouro amazônico, não só os garimpeiros. Um elo importante dessa cadeia são as Distribuidoras de Valores Mobiliários – as DTVMs –, empresas fiscalizadas pelo Banco Central que podem adquirir ouro diretamente de pessoas ou empresas donas de garimpos.

"Essas DTVMs lavavam e esquentavam esse ouro por meio desse processo e o vendiam. E depois repassavam esse ouro para várias outras empresas do mercado financeiro. E agora estamos notando que, possivelmente, elas podem estar entrando também no mercado de tecnologia", detalha o procurador da República.

Em Kamoktidjam, Soldado olha para o alto e fixa o olhar na copa de uma imponente castanheira com mais de 40 metros de altura.

"É assim que a gente quer, que a floresta continue em pé, para que haja fartura e nossos netos também possam caçar e pescar", afirma o ancião, que ainda faz um alerta aos "Kubẽn", como os não-indígenas são chamados na língua mebêngôkre:

"Não pode prejudicar nem derrubar a floresta. Isso é o que eu falo para meus filhos e netos, e falo para vocês também, se vocês têm filhos cuidem da terra, da floresta e dos animais para que no futuro eles também possam se alimentar."

Dados Técnicos

A floresta Kayapó em pé – Bák Kájmá Ãm  (2024 | 18 minutos)

Direção e Roteiro: Hyury Potter

Produção executiva: Carlos Juliano Barros

Direção de fotografia: Fer Ligabue

Montagem e finalização: Pedro Watanabe

Assistente de Montagem: Vinicius Silvestre

Pós-Produção: Candela Filmes e Pomodoro Studios

Coordenador de Design e Motion: Willer Carvalho

Realização: Repórter Brasil


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